It’s not God, it’s Pain that enjoys the advantages of ubiquity. (Cioran)
Desde a morte de Leonard Cohen (1934-2016), há mais ou menos 3 anos, eu não lamentei tanto a morte de um ídolo musical. Este ano, em 22 de março, foi a vez de Scott Walker (1943-2019) partir desta para uma melhor, como se diz.
Conheci o cantor e compositor americano, naturalizado inglês, graças à dica secreta de um amigo, durante um show da banda britânica Pulp (cujo líder e vocalista, Jarvis Cocker, é um grande admirador de Walker, tendo participado do documentário a ele dedicado pela BBC).
De ídolo adolescente, junto ao seu grupo The Walker Brothers, a crooner de música romântica e genial intérprete de grandes clássicos da música mundial, à produção tardia, de caráter radicalmente experimental e deliciosamente perturbador, que metamorfose! O que se passou com Scott Walker? Enlouqueceu? Transfiguração… virou “monstro” musical.
No conjunto da obra, destaco o seu abismal Bisch Bosch (2012), uma intensa experiência estético-musical, a definição mesma da vertigem. O equivalente musical de David Lynch. Música para auscultar e para ver. Música perigosa, para desmaiar… ou para tornar suportável a espera em aeroportos.
Um espírito como esse deveria viver 200, 300 anos, compondo e agraciando o mundo com a sua estranha genialidade. Eis alguém que compreendeu…
PHRASING (Scott Walker)
Pain is not alone.
P-a-i-n is n-o-t alone.
Pain is not a-l-o-n-e.
P-a-i-n i-s not alone.Neath a protein moon
in a protein sky,
running protein fields
with my protein eye.There’s a protein song
howling through
the meat.
Driving protein bods
from my protein street.P-a-i-n i-s n-o-t alone.
Pain is not a-l-o-n-e.
Pain is not alone.
P-a-i-n i-s n-o-t a-l-o-n-e.From the south
the Klan sends
roses.Lymph-lacquered nails
hover
in waifed
autumn sunfor dragging down
the back
of summer.From the east
come killer
poses.Khuschev’s shoe
beats a black
tattooin the middle
of the day.From the north
flow floats
with quivering
virgins,fresh from frozen
catacombs.Did ya spot
the die-cut…