A percepção musical envolve conceitos matemáticos, mas essa é só uma parte da história (Ignacio Amigo)

ComCiência – Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, Dossiê 196 (Música), março de 2018

Mesmo que muitos elementos da música possam ser analisados por uma perspectiva matemática, a forma como a percebemos é altamente subjetiva

Existem poucas coisas mais cotidianas e indefiníveis que a música, presente em todas as culturas, sob uma infinidade de formas. Essa indeterminação a situa nas interseções entre ciência e arte, racionalidade e irracionalidade. Mesmo que seja possível formalizar matematicamente vários de seus componentes, como ritmo e frequência, muitos elementos da percepção musical ainda estão longe de serem esclarecidos.

De acordo com uma definição clássica, a música é “som estruturado”, diferentemente do ruído, que é som sem estrutura definida. É, portanto, uma vibração. Todos os instrumentos musicais contêm um elemento que vibra, seja ele a corda de um violão, a coluna de ar de uma flauta ou as cordas vocais de uma cantora. As ondas geradas por essa vibração têm uma série de elementos mensuráveis, como frequência e amplitude. Esses elementos são os que nos permitem identificar tanto as notas que são tocadas como o som caraterístico de cada instrumento.

O ruído também é formado por uma mistura de ondas de diferentes frequências. Mas enquanto no ruído temos um contínuo de frequências sem que nenhuma delas seja dominante, na música as ondas têm frequências específicas (discretas), que mantêm relações matemáticas simples entre elas.

Essa visão da música como “som estruturado” começou a ser desafiada a partir do século XX. Um exemplo é a peça 4’33’’, do compositor norte-americano John Cage. Composta em 1952, o tema consiste em quatro minutos e trinta e três segundos durante os quais o intérprete não faz nada além de abrir e fechar a tampa do teclado do piano para sinalizar o começo e o final dos três movimentos que compõem o tema. O resultado da interpretação varia em cada apresentação, incorporando os sons do ambiente no qual a peça é interpretada.

O conceito de música ampliou-se significativamente nas últimas décadas, incluindo sons atonais e ruído, e as fronteiras entre música e outros sons são cada vez mais porosas… [+]

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